February 3, 2022
No texto do mês anterior tratei a ideia de Futurologia, a sua corriqueira utilização no mercado financeiro e como a necessidade de sempre estarmos no controle das situações pode acarretar prejuízos ao portfólio. Neste documento, abordarei um contraponto a esta circunstância, uma ferramenta contra a incerteza simples de ser utilizada, mas pouco implementada nos investimentos: margem de segurança.
Antes de fazer a correlação direta com os portfólios, acredito que seja importante citar que o conceito de margem de segurança é amplamente aplicado na vida e nos negócios:
Nos exemplos acima, os participantes não sabem onde, como e quando um evento negativo pode ocorrer, contudo existe a concordância entre eles de que a ausência de margens de segurança pode resultar em perdas irrecuperáveis para a vida ou para os negócios. E essa possibilidade é mais do que suficiente para que sejam implementados mecanismos de proteção contra o desconhecido.
Então, por que o conceito de margem de segurança é pouco utilizado pelos investidores tendo em vista que para várias outras situações a presença é quase anímica?
Tendo em vista o exposto acima, o que seria margem de segurança para os investimentos e como aplicá-la?
O princípio Margem de Segurança, no mundo dos investimentos, foi difundido por Benjamin Graham que, em resumo, dizia que um investidor só deve comprar títulos quando o seu preço de mercado estiver consideravelmente abaixo do seu valor intrínseco. A significativa diferença entre o preço de mercado e o valor intrínseco é a margem de segurança que, no limite, diminui o risco de fortes marcações negativas e perdas irrecuperáveis.
O valor intrínseco é uma medida do valor de um ativo. Não existe uma fórmula específica e seu cálculo é mais subjetivo, já que os analistas podem incorporar aspectos quantitativos e qualitativos.
Como descrito em nossos meios de comunicação, a preservação patrimonial é o nosso principal pilar, e acreditamos que os lucros são consequência desta premissa. Por isso, ampliamos o conceito de margem de segurança de Graham e explicamos para o cliente a importância de pensar o portfólio como um todo dentro deste princípio.
Na Carta Investir é Preciso, citei alguns aspectos quantitativos e qualitativos que podem ser utilizados para que a margem de segurança esteja presente no processo decisório, na escolha dos ativos e na constituição dos portfólios. Relembrando:
foi um economista inglês, considerado o criador do “buy and hold” (“comprar e manter”), estratégia de investimento em ações com foco em horizonte de longo prazo. Um de seus principais discípulos é Warren Buffet.
O que observar ao escolher empresas (ações)
Fundos de Investimentos
Crédito privado
Portfólio
Em conversa com um cliente sobre o tema, ainda em 2021, quando escrevi as premissas acima, fui indagado se a margem de segurança não se configura como um dispositivo conservador. E que, por isso, deveria ser empregado somente por investidores que são indecisos ou que não queiram correr riscos em busca de maiores retornos. Respondi que, se aplicada da maneira que discorremos nos parágrafos acima, a margem de segurança tem uma função diametralmente oposta.
Ela permite que tomemos mais risco, mas sobrevivamos aos possíveis resultados negativos que não são previsíveis por nenhum modelo. O investidor que possui em seu portfólio uma margem para situações inimagináveis terá vantagem sobre aqueles que, em um evento aleatório negativo de grande magnitude, perdeu grande parte do seu patrimônio. É a sobrevivência no mercado que nos permite obter resultados acima da média e, ao observarmos o comportamento das principais classes de ativos no longo prazo, concluímos que as probabilidades de lucros estão ao nosso lado.
É necessário deixar os juros compostos atuarem!
Constituir portfólios é ciência e arte ao mesmo tempo. É uma atividade de risco e dentro de toda assimetria e conflito de informações que vivemos temos que fixar parâmetros de controle que mitiguem as probabilidades da ruína. Não temos como dissociar os lucros do portfólio do controle de risco, são variáveis não separáveis.
O objetivo da margem de segurança é fazer com que a futurologia não seja tão necessária. É a única forma de navegar com segurança em um universo dominado pela incerteza.
A margem de segurança é um escudo contra os nossos vieses psicológicos!
A margem de segurança é o plano H para quando os planos A-B-C-D-E-F-G fracassarem!
A margem de segurança é o plano para quando não há mais planos!
“Uma margem de segurança é alcançada quando os títulos são comprados a preços suficientemente abaixo do valor subjacente para permitir erro humano, má sorte ou extrema volatilidade em um mundo complexo, imprevisível e em rápida mudança.”
Seth Andrew Klarman
é um gestor de hedge funds norte-americanos conhecido por ser um seguidor assíduo dos ensinamentos de Benjamin Graham, em especial na compra de ativos impopulares por valores baixos buscando maior margem de segurança.
Economista pela PUC Minas, especialista em Finanças pela Fundação Dom Cabral, certificação em economia, contabilidade e análise de negócios HBS CORe pela Harvard Bussines School. Certified Financial Plannner CFP®, desde 2017. Possui 13 anos de experiência no mercado financeiro com passagens por Caixa Econômica Federal, JP Morgan Private e Banco do Brasil Private.